Editores digitais adotam protocolo RSL para travar rastreadores de IA

Vários grupos de media, entre eles Yahoo, Quora, Medium e o conglomerado Ziff Davis, avançaram com a implementação do Really Simple Licensing (RSL), um novo protocolo concebido para limitar o acesso de empresas de inteligência artificial ao seu conteúdo sem autorização ou compensação.
O que é o RSL e porque surge agora
Inspirado no padrão RSS, em uso desde o início dos anos 2000, o RSL mantém a filosofia aberta e descentralizada, mas acrescenta uma camada de licenciamento. Essa camada define regras claras de utilização e eventuais pagamentos que os modelos de IA terão de cumprir antes de copiar artigos, vídeos ou bases de dados.
Atualmente, os rastreadores de IA recorrem ao ficheiro robots.txt para saber se podem aceder a um site. No entanto, vários operadores ignoram essas instruções, o que levou a múltiplos processos judiciais. De acordo com a RSL Foundation, os rastreadores já representam mais de metade do tráfego global na Internet.
Empresas envolvidas e motivações
A lista de aderentes inclui Reddit, People, Internet Brands, Fastly, wikiHow, The MIT Press, Adweek, Ranker e Raptive, entre outros. Todos pretendem evitar que os seus conteúdos sejam usados para treinar modelos de IA sem contrapartida financeira.
Tim O’Reilly, CEO da O’Reilly Media, considera o protocolo “a camada de licenciamento em falta para a Internet orientada à IA”. Tony Stubblebine, diretor-executivo da Medium, sublinha que “se a IA é treinada com o trabalho dos nossos autores, deve pagar por isso”.

Imagem: cnet.com
Impacto no tráfego e medidas paralelas
Estudos citados pelo grupo indicam que as plataformas de IA já retiram até 25 % do tráfego dos sites de notícias, consequência direta de respostas geradas no topo dos resultados de pesquisa ou em chatbots como o ChatGPT. Para mitigar perdas, alguns editores estão a processar empresas de IA ou a negociar licenças pagas; outros recorrem a soluções como a Tollbit, que cobra por cada pedido de rastreio, ou a serviços de rede de distribuição de conteúdos, como a Cloudflare, que bloqueiam bots por defeito.
Eckart Walther, cofundador do RSL, afirma que o protocolo pode coexistir com barreiras técnicas. Segundo o responsável, é possível cobrar pelo simples ato de rastrear e, em simultâneo, aplicar royalties sempre que a informação seja usada numa resposta gerada por IA.
Os promotores esperam que a adoção generalizada do RSL crie um enquadramento “mutuamente benéfico” entre produtores de conteúdo e desenvolvedores de inteligência artificial, travando o uso não autorizado e assegurando remuneração pelos materiais originais.