Ausências crónicas nas escolas dos EUA continuam 50% acima do período pré-pandemia

Um conjunto de estudos apresentados num simpósio do American Enterprise Institute indica que o absentismo crónico nas escolas públicas norte-americanas mantém-se muito acima dos níveis registados antes da covid-19. Embora o pico tenha sido atingido no ano letivo 2021-22, com quase 29 % dos alunos a faltar pelo menos 18 dias, a taxa situou-se ainda em 23,5 % em 2023-24, cerca de 50 % acima dos 15 % observados em 2018-19.
Escala do problema
Com 48 milhões de estudantes do jardim-de-infância ao 12.º ano, cerca de 11 milhões faltam a pelo menos 10 % das aulas. O fenómeno atravessa perfis socioeconómicos: nos distritos com baixos rendimentos, 30 % dos alunos são cronicamente ausentes, mas mesmo nos de baixo nível de pobreza a percentagem ultrapassa 15 %. Também os distritos com melhores resultados académicos registam mais de 15 % de absentismo, quando antes da pandemia estavam perto dos 10 %. Por grupos étnicos, os valores variam entre 36 % para estudantes negros e 15 % para asiáticos; contudo, investigadores indicam que estas diferenças diminuem quando o rendimento familiar é considerado.
Tendência para faltas moderadas
A investigação em três estados (Texas, Carolina do Norte e Virgínia) mostra que o absentismo ligeiro também aumentou. Em 2019, metade dos alunos faltava a menos de 4 % das aulas; em 2023 essa proporção desceu para um terço. O padrão sugere que estar ausente alguns dias se tornou comportamento mais comum.
Causas identificadas
Inquéritos e entrevistas apontam múltiplos fatores. Entre os mais mencionados estão:
Banalização das faltas: as normas sociais sobre presença física alteraram-se, à semelhança do que acontece no trabalho presencial.
Facilidade tecnológica: plataformas como Google Classroom permitem aceder a tarefas e materiais em qualquer altura, reduzindo a pressão para comparecer.

Imagem: the year they end via ww2.kqed.org
Desinteresse escolar: mais alunos, sobretudo do 1.º ciclo, referem que as aulas são “aborrecidas”.
Saúde mental: professores e famílias relatam níveis elevados de ansiedade, depressão e traumas, contribuindo para o afastamento.
Consequências já visíveis
Modelos de aprendizagem indicam que faltar 10 dias equivale agora a perder 90 % de um mês letivo, contra 100 % antes da pandemia, devido ao apoio online. Ainda assim, o défice continua significativo. Por outro lado, as notas e as taxas de conclusão do secundário subiram, fenómeno atribuído por investigadores a inflação classificativa.
Especialistas alertam que a ausência sistemática prejudica a formação de hábitos essenciais para o mercado de trabalho. Empresas relatam dificuldades em encontrar trabalhadores fiáveis, o que pode agravar-se se os atuais padrões de presença escolar persistirem.