Ações de empresas que acumulam bitcoin deslizam até 70% num verão de recuos

As cotações de várias empresas cotadas que utilizam o capital angariado em bolsa para comprar criptomoedas estão a recuar de forma acentuada, acompanhando a perda de fôlego do mercado de ativos digitais.
Desvalorização generalizada
Pelo menos 61 sociedades de capital aberto adoptaram, desde o início do ano, estratégias de «entesouramento» de bitcoin, segundo dados compilados pela Reuters. A maior parte dessas empresas viu o preço das suas ações disparar durante a subida da criptomoeda, mas o movimento inverteu-se nas últimas semanas.
Os títulos da Strategy, liderada por Michael Saylor, recuaram de 457 dólares em julho para 328 dólares esta semana, o valor mais baixo desde abril, limitando o ganho anual a 13%. Na bolsa japonesa, a Metaplanet perdeu mais de 60 % face ao pico de junho; ainda assim, mantém uma valorização de 105 % desde janeiro.
Empresas de menor dimensão, que anunciaram mudanças repentinas para a compra de bitcoin, apresentam quebras ainda mais expressivas. Os papéis da britânica Smarter Web Company, por exemplo, caíram acima de 70 % desde junho.
Modelo de negócio exposto à volatilidade
Estas companhias financiam-se através da emissão de ações ou dívida, canalizando os recursos para a aquisição de criptomoedas que ficam registadas no balanço. De acordo com Adam McCarthy, analista da Kaiko, trata-se de «jogos de volatilidade»: quando o bitcoin recua 3 %, as ações podem cair quatro ou cinco vezes mais.
A fragilidade torna-se evidente quando o valor bolsista fica abaixo das participações em moeda digital. Além disso, o acesso aos mercados de capitais pode «secar quando a confiança arrefece», alerta Lale Akoner, estratega da eToro, lembrando que muitas destas empresas têm fundamentos «modestos» para lá das reservas de bitcoin.
Casos emblemáticos e diversificação para outras moedas
A canadiana Alt5 Sigma, que investe em tokens ligados ao projeto World Liberty Financial de Donald Trump, afundou mais de 61 % depois de atingir máximos em junho, mesmo após anunciar um acordo de 1,5 mil milhões de dólares. Já a norte-americana BitMine e a rede de jogos GameSquare, impulsionadas por planos de compra de ether, recuam cerca de 67 % desde julho.
No horizonte imediato
A bolsa de criptomoedas Gemini, apoiada pelos irmãos Winklevoss, prepara-se para estrear-se na Nasdaq esta sexta-feira, com uma avaliação que poderá chegar a 3,08 mil milhões de dólares. O desempenho da estreia será visto como novo teste ao apetite dos investidores por empresas estreitamente ligadas ao universo cripto.