Estudo revela 10,7 mil milhões de dólares gerados por menores nas redes sociais

Um estudo da Universidade de Harvard concluiu que Facebook, Instagram, Snapchat, X e YouTube faturaram 10,7 mil milhões de dólares com utilizadores até aos 17 anos só em 2022, nos Estados Unidos. O cálculo cruzou dados de mercado, estatísticas demográficas e o tempo médio gasto em cada plataforma, uma vez que as empresas não publicam receitas segmentadas por faixa etária.
Receita sustentada pelo público infanto-juvenil
De acordo com os investigadores, entre 30% e 40% da receita anual das principais redes sociais provém de crianças e adolescentes. Quase um quinto do valor – cerca de 2,1 mil milhões de dólares – terá sido obtido junto de menores de 12 anos, grupo que, pelas próprias regras das plataformas, não deveria sequer ter conta.
No Brasil, a discussão reacendeu-se em 2025 após um vídeo do influenciador Felca expor falhas de moderação em Instagram, TikTok e YouTube. As denúncias recordaram o caso do Orkut, em 2006, quando pornografia infantil ao lado de anúncios publicitários originou uma CPI e alterações no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Controlo de idade e algoritmos em causa
As principais plataformas exigem idade mínima de 13 anos e, para utilizadores até aos 17, conta associada a um adulto responsável. Contudo, o sistema baseia-se na data de nascimento declarada pelo próprio utilizador, facilmente manipulável. No Brasil, o inquérito TIC Kids Online 2024 indica que 51% das crianças até 13 anos utilizam WhatsApp, 43% estão no Instagram, 32% no YouTube e 28% no TikTok.
Especialistas apontam que os algoritmos privilegiam o envolvimento e não a segurança. Ao interagir com vídeos que sexualizam menores, o utilizador passa a receber recomendações semelhantes, criando bolhas temáticas. O Instituto Alana identificou casos em que crianças são expostas a anúncios de apostas, proibidos para essa faixa etária.

Imagem: uol.com.br
Ação regulatória e limitações da moderação
Entidades brasileiras intensificaram a fiscalização. A Autoridade Nacional de Proteção de Dados abriu investigação à Meta por recolha de dados de menores sem salvaguardas adequadas, levando ao adiamento do serviço Meta AI no país. O TikTok também é alvo de inquérito por permitir acesso a vídeos sem verificação de idade. Desde 2016, o Ministério Público Federal tenta forçar o Google a avisar, em todos os vídeos, ser proibida a publicidade infantil ou com crianças no YouTube.
Entre janeiro e março de 2025, Google e Meta removeram ou ocultaram perto de 100 milhões de publicações com risco infantil, 94% das quais por via algorítmica. O TikTok derrubou 211 milhões de vídeos no mesmo período, sem detalhar quantos envolviam menores.
Investigadores recomendam separar algoritmos destinados a adultos e a crianças e adotar mecanismos robustos de verificação etária. O Ministério da Justiça brasileiro discute uma solução pública de confirmação de idade, baseada em registos federais, para tornar efetiva a restrição a utilizadores com menos de 13 anos.