Criador do Pix revela como convenceu bancos e prepara expansão internacional

Carlos Brandt, antigo responsável do Banco Central do Brasil e actualmente colaborador do FMI, descreveu o percurso do Pix desde a concepção até à adopção em massa, durante entrevista ao podcast «Deu Tilt».
Resistência inicial das instituições financeiras
Brandt recordou que, no arranque do projecto, os bancos receavam perdas de receita provenientes de tarifas tradicionais. O Banco Central precisou de negociar com estas entidades, sublinhando que o aumento da base de clientes compensaria a redução dos encargos. Segundo o economista, mais de 70 milhões de brasileiros passaram a efectuar transacções digitais após o lançamento do Pix.
O regulamento do sistema impede a cobrança de taxas a pessoas físicas em operações não comerciais, medida que, de acordo com Brandt, foi decisiva para acelerar a adesão popular e reduzir barreiras de entrada.
Impacto além-fronteiras
O Pix já é aceite em pagamentos pontuais na Argentina, no Chile e em Portugal. A denominação curta foi escolhida para facilitar a compreensão noutros idiomas e apoiar futuras ligações internacionais. Brandt salientou que não existe uma «receita única» para replicar o modelo noutros mercados; cada país deverá adaptar a solução às próprias necessidades.
Em comparação, o sistema indiano UPI apresenta funcionalidades semelhantes, como QR Code e chaves de identificação, mas atinge cerca de metade da população adulta, enquanto o Pix alcança 90 % dos brasileiros.

Imagem: uol.com.br
Novas funcionalidades em desenvolvimento
Entre as próximas etapas, destaca-se a introdução do Pix parcelado, opção que permitirá pagamentos fraccionados. O criador do sistema frisou, contudo, que a oferta de crédito exige maior cautela: «O Pix é um ecossistema de pagamentos, não de crédito.» O objectivo imediato é reforçar a infraestrutura para garantir integrações futuras com carteiras digitais e outras soluções de forma segura.
Trabalhando hoje fora do Brasil, Brandt admite sentir falta de «Pix e churrasco», mas acompanha à distância a evolução de uma tecnologia que se tornou referência mundial em inclusão financeira.